A QUESTÃO DOS QUESTIONÁRIOS: UMA RELEITURA DA SUA
CRIAÇÃO ATÉ A APLICAÇÃO NO PIBID-HISTÓRIA (CFP/UFCG)
Rafael
Dalyson Dos Santos Souza
Jefferson
Fernandes De Aquino
Resumo:
O
presente trabalho trata do uso do questionário como metodologia para se definir
temáticas para o ensino da História. Os questionários são um método bastante
utilizados nas pesquisas científicas bem como na pesquisa historiográfica. Gil (2008) ao estudar esse método em pesquisas demonstra
como ele pode ter pontos positivos e negativos para a pesquisa. Dentre os
positivos, o alcance de um grande público, o anonimato, e a percepção das
crenças, sentimentos e reações frente as perguntas são validadores para o seu
uso. Nesse sentido, os questionários são uma fonte que permitem a
análise de dados quantitativos para uma discussão qualitativa, pois como afirma
Darcy (1997) a partir da coleta dos dados através da pesquisa de campo pode-se
verificar as hipóteses levantadas. Buscando conhecer a percepção da turma
através de situações concretas, elaboramos questões que abordassem temas
transversais vinculados ao ensino de História, bem como previsto no PCN,
considerando que tais temas, se bem trabalhados, são importantes para o aluno
conhecer e problematizar a realidade a sua volta. Assim, a partir desses questionamentos,
podemos, através da experiência no PIBID-História (CFP/UFCG) na E.E.E.F. Dom
Moisés Coelho em Cajazeiras/PB efetuar sua aplicação na turma do 9º ano “E” e,
com isso pudemos analisar o perfil da turma através das respostas obtidas
fazendo com que o conhecimento dos alunos quanto a sua percepção mediante as
questões realizadas beneficiasse nas demandas posteriores quanto ao
desenvolvimento do projeto.
Palavras
chave: História. Ensino. Questionários.
Introdução
A
arte de ensinar história vai muito mais além de simplesmente contabilizar
datas, compilar e, didaticamente transmitir dados sobre eventos passados. A
disciplina de História, historicamente esteve ligada a uma educação moral, a
priori, religiosa, mas enaltecendo os fatos e os personagens à medida do
espectro positivista que permeava a ciência histórica no século XIX. Com o
passar dos anos, compreender o passado passou a ir mais além. Agora, não mais
importava os dados e fatos, mas sim a formação do cidadão e, respaldados pela
Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9394/1996), pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a disciplina de História e pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), a História sai da sua completa cientificidade
e chega a sala de aula enquanto componente curricular.
Desta
forma e objetivando problematizar os questionários elaborados em conjunto pelo
PIBID-História (Cajazeiras-PB), o presente resumo expandido busca compreender
como o mesmo serviu de metodologia para o ensino de História, possibilitando o
conhecimento dos alunos quanto as suas percepções, e como respondeu aos temas
transversais veiculados ao PCN de História.
Ao
iniciar o trabalho no projeto, fez-se necessário, por parte dos bolsistas, ter
um primeiro contato com os alunos, a fim de que pudéssemos nos familiarizar com
suas opiniões, reações, conhecimentos e percepções frente a situações
cotidianas que abordavam temas transversais. Com isso, como metodologia para o
ensino de História, embora a disciplina em questão tratava-se de Artes, pudemos
conhecer os alunos através de suas reações a situações histórico-sociais
cotidianas.
Desenvolvimento
Primeiro
necessita-se de uma compreensão do porque se utilizou esta ferramenta para
aplicação no PIBID. Sabe-se que os conhecimentos históricos não são, sozinhos, nem
tampouco suficientes para se ensinar. Há uma diversidade de outros saberes no
qual o professor necessitará na sua prática. Exemplos disso são a compreensão
da história do próprio aluno quanto ao contexto que ele se insere, suas
posições e crenças que não podem ser desprezadas. Pois como afirma Caimi (2016)
“Para ensinar História não basta, por suposto, possuir conhecimentos
históricos, ter alguma formação pedagógica ou conhecer algo de psicologia da
aprendizagem.” (CAIMI, 2016, p. 112).
Sabe-se
também que as questões são fundamentais para obtenção de resultados, pois é
através das respostas que se poderá observar, por exemplo, se o professor
conseguiu alcançar os resultados que objetivava. Elaborar as questões é um
processo importante e que exige bastante dedicação dos pesquisadores. A clareza
do que se pretende saber é fundamental nesse processo.
Questionários
são também instrumentos para o conhecimento histórico, definido assim por Darcy
(1997) que afirma que ele “(...) consiste em uma série ordenada de perguntas
que devem ser respondidas por escrito e anonimamente pelo informante”. (DARCY,
1997, p.111).
Nesse sentido, é um instrumento dentro das
pesquisas descritivas ou de campo uma vez que será fundamental para a análise
da amostra escolhida dentro da população, ou seja, uma parcela do grupo já que
não é possível analisar toda a população (DARCY, 1997, p.105). Conceituado questionários, Gill (2008) nos
afirma que
Pode-se definir
questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de
questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações
sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas,
aspirações, temores, comportamento presente ou passado etc. (p.121)
Compreende-se
assim que os questionários possuem uma relevância por proporcionarem o
conhecimento do grupo que está respondendo, analisando suas características em
grupos. Assim, para alcançar estes propósitos, realizamos questões sobre
atitudes e crenças que objetivam capturar através das respostas as questões que
tratam de situações cotidianas sobre religiões, sexualidade, machismo,
corrupção e família as reações e percepções de quem responde. (GIIL, 2008, p. 125).
As
perguntas foram desenvolvidas em conjunto por um grupo de bolsistas com o
auxilio e orientação do supervisor Jefferson Fernandes de Aquino no
PIBID-História (CFP/UFCG) e objetivavam, como já afirmamos, conhecer os alunos
através de suas reações a perguntas que tratassem de situações. Após a escolha
dos temas a serem trabalhados (homofobia, intolerância religiosa, machismo,
corrupção, trabalho infantil e família) passamos a criação das
questões/situações e suas respectivas alternativas.
Atentado
para o cuidado na elaboração das alternativas, levamos em consideração que
poderiam haver mais de duas opções, pois é preciso levar em conta que há mais
de duas reações a determinadas situações. Por isso, colocamos duas extremas
“concordo” ou “não concordo”, e duas intermediárias.
Os
possíveis constrangimentos foram levados em consideração no momento de criação
das questões, uma vez que tratando-se de temas polêmicos, poderiam causar
sensação de ameaça aos respondentes (GILL, 2008, p.129). Além da precaução na
aplicação afirmando que se tratava de um questionário anônimo, o distanciamento
na hora da aplicação, bem como a atenção na hora da escrita do conteúdo das
perguntas foram cuidados tomados.
Outro
fator importante na elaboração das perguntas foram os temas transversais para o
ensino de História contidos no PCN. No seu conteúdo expresso, afirma-se que os
critérios para a sua escolha foram urgência social, a abrangência nacional, a possibilidade
de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, e o favorecimento da
compreensão da realidade e da participação social. (BRASIL, p. 26, 1997).
Além
disso, cinco temas gerais foram escolhidos para nortear os PCNs: ética,
meio-ambiente, saúde, pluralidade cultural e orientação sexual. Buscamos
atentar para as temáticas ética, pluralidade cultural e orientação sexual,
estando elas presentes nas questões que foram elaboradas. Não se trata aqui de
discutir cada conceito presente no PCN, mas de perceber o diálogo que
mantivemos com as temáticas presentes nele.
Gráfico 1: Resultados
levantados nos questionários
Fonte: Dos autores
Em nossa pesquisa
analisamos uma turma de 23 alunos que foi a nossa amostra. Buscamos analisar
duas questões do nosso questionário para esta pesquisa. Com a análise dos
dados, pudemos mensurar o seguinte: na questão “1” que abordava a homofobia uma
situação de violência homofóbica a maioria dos alunos (14) marcou a alternativa
(D) “Eu procuraria uma Delegacia da Mulher para denunciar a agressão”. Já a questão
“2” em que abordava uma situação de intolerância religiosa. 13 alunos marcaram
a letra (A) “Denunciaria o agressor, pois tenho direito a cultuar a minha fé”,
e outras 9 marcaram a (D) “Ficaria triste por saber que existem pessoas que não
respeitam a minha religião.”
Referências bibliográficas
Universidade
Federal de Campina Grande. Graduando em História. Bolsista
de Iniciação à Docência pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID), vinculado à UFCG, Campus de Cajazeiras (PB).
Especialista em Geopolítica e
História pelas Faculdades Integradas de Patos (PB); Especialista em Atendimento
Educacional Especializado pela Universidade Federal Rural do Semiárido
(UFERSA/RN); Graduado em História pela Universidade Federal de Campina Grande,
Campus de Cajazeiras (PB); Supervisor do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID), vinculado à UFCG, Campus de Cajazeiras (PB);
Professor da Rede Básica de Ensino na EEEF Dom Moisés Coelho e no Colégio Nossa
Senhora do Carmo, ambos em Cajazeiras (PB).
BRASIL. MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais – Apresentação dos temas transversais. Brasília: 1997.
CAIMI,
Flávia Eloísa. O que precisa saber um
professor de história?. História
& Ensino, v. 21, n. 2, p. 105-124, 2016.
CHAER,
Galdino; DINIZ, Rafael Rosa Pereira; RIBEIRO, Elisa Antônia. A técnica do questionário na pesquisa
educacional. Revista Evidência,
v. 7, n. 7, 2012.
CORDEIRO,
Darcy. Ciência, pesquisa e trabalho
científico. Goiânia: Ed. UCG,
1997.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa so
O questionário é um recurso didático antigo, visa levantar resultados quantitativos sobre determinados temas, no ensino de História acredito ser uma ferramenta fundamental, não como mero levantamento de dados, mas como desconstrução de conceitos e formulação de novas concepções da realidade. Gostaria que os colegas mencionassem como se deu a correção deste questionário, o tanto quanto polêmico, houve problematização dos quesitos? Como eles reagiram?
ResponderExcluirGrato,
Luis Felipe de Lima Durval - Licenciando em História pela UFPE
Olá Luis Felipe! Inicialmente obrigado pelo posicionamento! Vamos lá! Como bem afirmamos em nosso texto, os questionários foram aplicados com vistas a desenvolver oficinas com tais temáticas. A recepção dos alunos, a priori, foi tranquila. Como tem no texto, as perguntas eram situações problemas que versavam sobre questões como preconceito, homofobia, gênero, entre outros. O resultado foi levantado a partir do quantitativo de alunos por alternativas e sempre era levado para a sala de aula no ato em que o PIBID-História estivesse atuando numa oficina com temática fruto daquele questionário.
ExcluirA princípio nossos alunos não estranharam, como disse, mas a medida em que o questionário ia sendo respondido por eles, percebíamos uma inquietação, fruto de uma reflexão.
Espero ter sanado a sua dúvida!
Olá Luís, tudo bem? Então... o processo de aplicação do questionário não contou com uma "correção". Enxergamos no questionário uma metodologia para que pudessemos trabalhar atividades posteriores. Desenvolvemos, por exemplo, até agora, duas oficinas; uma sobre gênero e a outra sobre trabalho infantil. A recepção deles foi boa. Tivemos o cuidado, como os textos que colocamos afirmam, de manter distância do/a aluno/a no momento da aplicação, e de deixar, por exemplo que eles interpretassem por si só. Foi uma boa experiência. Respondido? Abraços! Att, Rafael.
ExcluirOlá Rafael Dalyson Dos Santos Souza e Jefferson Fernandes De Aquino
ResponderExcluirAchei realmente interessante a utilização dos questionários, eles possibilitam uma visão geral da turma. Não tenho um questionamento específico, é apenas uma observação, acho que faltou concluir melhor o texto, você termina apenas jogando os dados coletados, faltou dar um pouco de sentido a isso, se você quiser falar mais aqui nos comentários dessa visão geral do que foi coletado, seria interessante.
Parabéns pela pesquisa
Estevam Machado
Olá Estevam, tudo bem? Realmente, tivemos um pouco de dificuldade na elaboração do texto. É uma temática que envolve muitas questões. Suscitou uma discussão que não tivemos espaço de colocar. Bem, mas vale a pena adicionarmos aqui sim. É importante compreender que, como eram temas polêmicos, muitos podem ter se inibido a selecionar alternativas, por medo ou por outras questões. Contudo, foi importante perceber isso. Afirmo isto porque a partir dos questionários pudemos conhecer algumas das posições dos/as alunos/as. Quanto ao que foi analisado, pudemos perceber na turma posições "moderadas" sobre os temas. A maioria sempre selecionava alternativas que estavam no "meio termo". Ficou mais claro? Att, Rafael.
ExcluirOlá Estevam! Assim como bem explanou Rafael, foi muito complicado para definirmos um tópico, dentre tantos que foram discutidos dentro do questionário. Contudo, os temas selecionados expuseram "soluções" com base em situações-problemas que envolviam questões éticas, raciais, religiosas, entre outros. E nos ajudou muito a ver o posicionamento dos nossos alunos.
ExcluirRafael e Jefferson parabéns pela comunicação Há preconceito em relação ao questionário por sido utilizado como um recurso avaliativo. Mas num processo de pesquisa o questionário é válido como pesquisa qualitativa como coleta de dados.
ResponderExcluirJosé Walter Vieira - É licenciado em História pela Universidade Estácio de Sá.
Especialização em História de Pernambuco - UFPE.
Olá José Walter! Obrigado! De fato! Porém é,como você mesmo disse, um recurso muito utilizável nas pesquisas científicas e como todo método, é passível de crítica. Afirmamos a importância do questionário até como recurso didático para o próprio ensino de História.
ExcluirAtt, Rafael.
Olá José Walter! Obrigado pela contribuição! Concordo contigo e com Rafael, e para ser bem sincero, o questionário nos possibilitou discutir, enquanto grupo (PIBID) quais temas e estratégias utilizar em nossas docências.
ExcluirEstou elaborando minha tese de mestrado e vou utilizar como ferramenta de coleta de dados o questionário. E percebi que a elaboração das questões é realmente um processo que se deve ter total dedicação para evitar, conforme observado pelos autores, perguntas que gerem constrangimentos e duplicidade de opções, fatos que podem ocasionar falhas nos resultados. Além disso, como minha amostra será com alunos de 12 a 14 anos, deve ser sucinto e de fácil compreensão para não se tornar cansativo e desinteressar o respondente.
ResponderExcluirEliana Gomes Ferreira
Mestranda em Educação pelo ITEH